O que itens como arroz, feijão, carne, tomate, batata, pão, leite, óleo de soja têm em comum além de fazerem parte da cesta básica?
A resposta é simples: todos tiveram um aumento de preço impactante para o bolso da população. Esses itens básicos da mesa do brasileiro subiram em todas as capitais pesquisadas entre 2020 e 2021, conforme aponta o Dieese, responsável pela pesquisa. O custo médio da cesta básica também subiu em todas as cidades pesquisadas, com altas de até 25%, ou seja, aumentos acima da inflação oficial. Segundo os cálculos do próprio Dieese, se o salário-mínimo fosse ajustado para que o trabalhador realmente tivesse condições mínimas de bem-estar, o valor deveria ser de R$ 5.583,90, mais de 5 vezes que o mínimo vigente.
Entender esse cenário na prática, portanto, significa dizer que, se uma família não mudou os seus hábitos de consumo desde o início da pandemia e não teve ganhos de receita acima da correção dos produtos da cesta básica, ela provavelmente consumiu grande parte ou todos os recursos guardados para sobreviver e estaria endividada. Diante disso, é fácil entender o índice (72,9%) recorde do número de famílias endividadas divulgado pela CNC, uma vez que seria inevitável deixar de usar alguma linha de financiamento para cumprir o orçamento do mês, em que 21,1% possuem dívidas acima de 50% de suas rendas.
Sendo assim, é preciso reduzir a carga tributária do preço dos alimentos e de toda sua cadeia produtiva, sem deixar de lembrar que parte do aumento dos preços está diretamente ligada ao aumento do preço do combustível. Criar regras para priorizar o abastecimento do mercado interno ao invés de exportar: se existe a utilização de recursos públicos – “dinheiro carimbado do governo” – como linhas de BNDES ou Crédito Rural usadas para financiar a produção, a prioridade deve ser abastecer o mercado interno e exportar o excedente, principalmente quando se trata da indústria da carne, usinas de álcool ou açúcar e de grandes produtores rurais, que estão ligados diretamente com os itens da cesta básica.
Outro ponto importante é difundir conceitos de Educação Financeira que ajudarão na conscientização, na mudança de hábitos, na escolha melhor de crédito (quando necessário), no equilíbrio financeiro e na qualidade de vida da população. O resultado, portanto, pode gerar uma redução do endividamento das famílias, da inadimplência e principalmente a redução dos impactos da saúde financeira na saúde física e mental das pessoas, como mostra o estudo realizado pelo SD Positivo (veja o estudo completo em www.sdpositivo.com.br/estudosd).
É preciso tomar ações para frear o aumento de preço da cesta básica, seja por parte do governo, seja por parte das empresas. Do contrário, veremos não só uma escalada do endividamento e da inadimplência, mas um forte impacto na saúde física e emocional do brasileiro. Fica claro que a falta de saúde financeira também leva à fome e a doenças graves que, ao atingirem pontos de gravidade extremos, não existirão recursos e tratamentos para salvar o paciente.
por José Roberto Falcone.
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