Consignado é Justiça Social – Será?
- falcone63
- 2 de mai.
- 4 min de leitura

Por um consultor que já viu de perto o que o dinheiro (ou a falta dele) faz com a vida das pessoas.
Vamos ser sinceros: crédito consignado, aquele que já vem descontado direto na folha de pagamento, foi vendido por muito tempo como a salvação da lavoura. A promessa era simples: juros mais baixos, acesso fácil, sem consulta ao SPC/Serasa, e uma chance de sair do sufoco sem cair nos braços dos agiotas ou do rotativo do cartão, que é basicamente um buraco negro financeiro. Mas será que o consignado é mesmo uma ferramenta de justiça social como vem sendo falado por políticos? Ou ele virou só mais um jeito elegante de aprofundar o buraco de quem já está se afogando?
A sedução do desconto em folha
Do ponto de vista técnico, o crédito consignado tem sim vantagens. Os juros costumam ser bem menores que os de outras linhas. Isso acontece porque o risco para quem empresta é muito baixo – afinal, o pagamento da parcela é garantido antes mesmo do salário cair na conta. O problema é quando essa vantagem vira armadilha.
Na prática, milhares de brasileiros começaram a usar o consignado não para resolver pendências financeiras, mas para aumentar o consumo. Comprar geladeira nova, trocar de celular, pagar a viagem parcelada em 84 vezes. O problema não está na compra em si, mas no uso errado do crédito. O consignado jamais deveria ser usado para consumir, e sim para organizar. É uma linha que até pode ajudar a sair da inadimplência, quitar uma dívida com juros maiores, reorganizar a vida. Mas quando ele vira parte do orçamento fixo da família por anos a fio, o que temos é um salário já “nascendo” comprometido. Isso é liberdade financeira? Está longe disso.
O rombo na conta e no emocional
Segundo os dados mais recentes do Serasa, o Brasil bateu a marca de mais de 72 milhões de inadimplentes. É quase um em cada dois adultos. A gente vive uma epidemia de dívidas, e o consignado, em muitos casos, virou o remédio errado para a doença certa. Ele dá a falsa sensação de que tudo está sob controle, mas por trás da parcela fixa existe uma bola de neve se formando, muitas vezes invisível até que seja tarde demais.
E o impacto disso não para no bolso. Endividamento crônico vira problema de saúde mental e física. A Organização Mundial da Saúde já alertou: o estresse financeiro pode desencadear quadros de ansiedade, depressão, insônia e até doenças cardiovasculares. Pessoas que vivem no limite passam a ter medo até de olhar o extrato bancário. Esse medo tem nome: fobia financeira. E ela anda de mãos dadas com outras síndromes cada vez mais comuns.
O peso da dívida no crachá
Agora pensa nisso dentro das empresas. Um funcionário com a cabeça cheia de boletos, cobradores ligando, salário já comprometido antes de cair... você acha que ele vai render bem? Claro que não. Vai faltar mais, se engajar menos, entregar abaixo do esperado. A produtividade despenca. E não é só ele que sofre: a empresa também paga essa conta. Turnover alto, aumento no absenteísmo, queda na performance de equipes inteiras.
Por isso, o RH precisa parar de tratar o bem-estar financeiro como um “mimo” e entender que ele é pilar essencial da saúde mental. Empresas que querem cuidar da saúde emocional dos colaboradores sem falar sobre dinheiro estão enxugando gelo. Não adianta promover campanha de “Setembro Amarelo”, “Janeiro Branco” e deixar o funcionário afundado em dívidas. Saúde mental exige olhar para a causa raiz do sofrimento, e muitas vezes, ela está no extrato bancário.
Educação financeira sem viés: a chave do jogo
Educar financeiramente não é ensinar a fazer planilha ou cortar o cafezinho. É desenvolver consciência crítica sobre consumo, crédito e escolhas. E isso precisa ser feito sem viés, sem julgamento, sem fórmulas prontas. Porque a realidade de quem ganha R$ 1.500 é completamente diferente da de quem ganha R$ 15 mil.
Quando as pessoas entendem como o dinheiro realmente funciona, elas ganham autonomia, poder de decisão e, principalmente, segurança emocional. Pessoas com segurança financeira são mais leves no dia a dia, tomam decisões com mais clareza, vivem com menos medo e se tornam mais produtivas – tanto na vida pessoal quanto no trabalho. Elas dormem melhor, se alimentam melhor, se relacionam melhor. Isso é qualidade de vida de verdade.
E no fim das contas?
Não, o crédito consignado não é, por si só, justiça social. Ele pode até ser uma ferramenta útil, mas nas mãos erradas e sem orientação, vira veneno. O que realmente promove justiça social é educação financeira de qualidade, acessível e contínua, integrada a programas de saúde e bem-estar nas empresas, nos sindicatos, nas escolas. Porque o buraco do endividamento não se tapa com crédito. Se resolve com informação, apoio e empatia.
Está mais do que na hora de pararmos de tapar o sol com a peneira. Cuidar da saúde financeira das pessoas é cuidar da saúde integral delas. E só vai existir empresa saudável num país endividado se as empresas entenderem que saúde mental começa com o bolso no azul. O resto é discurso bonito que não paga boleto.
Agora você, profissional de RH como a sua empresa lida com a saúde financeira dos funcionários? Conseguiu perceber como as ações em saúde financeira refletem nos demais pilares de saúde da empresa?
por José Roberto Falcone
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